Neste artigo, vamos discutir como identificar deficiência de vitaminas e micronutrientes em crianças e adolescentes, os principais sinais e sintomas dessas deficiências e como abordá-las de acordo com as recomendações atuais. Também serão abordados os principais nutrientes que podem precisar de suplementação além de sugerir alimentos ricos nesses nutrientes, como fazer o diagnóstico e em quais situações a suplementação de vitaminas e micronutrientes está indicada.
Vivemos em um cenário onde deficiências nutricionais são prevalentes e têm implicações significativas para a saúde. Existem no mundo 372 milhões de crianças com deficiência de micronutrientes, incluindo obesos mal-nutridos, que fazem parte da chamada fome oculta.
A alimentação é a base para o crescimento saudável e o desenvolvimento adequado de crianças e adolescentes. Vitaminas e micronutrientes são componentes vitais da alimentação, necessários para diversas funções do corpo, como o fortalecimento do sistema imunológico, a formação de ossos e músculos, o desenvolvimento do cérebro e a manutenção de uma boa saúde geral.
Deficiências de vitaminas e micronutrientes podem impactar o desenvolvimento físico e mental. Situações de extrema dificuldade e seletividade alimentar podem levar a deficiências nutricionais, tornando importante entender quando a suplementação é necessária e como a alimentação adequada pode suprir essas necessidades.
Dra. Berenice Ferreira
Pediatria geral e Puericultura
CRM: 18.406 MG / RQE: 24571
Dra Berenice é especialista em pediatria.
- Experiência de 40 anos no atendimento de crianças e adolescentes, em consultório e atividades em enfermaria pediátrica.
- Ampla experiência e constante atualização em nutrição infantil, com vários anos de vivência clínica, de estudo e cursos realizados sobre esse tema tão importante para a promoção da saúde infantil e formação de hábitos alimentares saudáveis para a vida toda.
- Docente há 20 anos, ministrando aulas teóricas e como preceptora em enfermaria pediátrica na Universidade de Uberaba (UNIUBE)
- Dra Berenice é médica capacitada para um atendimento de excelência desde a consulta pediátrica de pré-natal até a adolescência, com enfase na nutrição infantil.
Formação
- Formada em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro em 1983 (UFTM)
- Residência Médica em Pediatria no Instituto Santa Lydia em Ribeirão Preto /SP.
- Título de especialista em pediatria / RQE: 24571
- Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria
- Preceptora de pediatria do curso de Medicina da Universidade de Uberaba
- Membro da Sociedade Regional de Pediatria do Vale do Rio Grande / SMP
Veja alguns comentários sobre a Dra Berenice Ferreira:
Identificando Deficiência de vitaminas
O histórico alimentar é a base para o diagnóstico de possíveis carências na dieta e para possíveis recomendações de exames laboratoriais.
Um rigoroso questionário alimentar deve ser realizado durante alguns dias (recordatório alimentar), com detalhes sobre a quantidade e qualidade de cada alimento consumido.
Precisamos estar atentos aos sinais clínicos e nos hábitos alimentares da criança ou adolescente. Algumas deficiências podem ser sutis, enquanto outras podem ter sinais claros e visíveis.
Os principais sintomas de deficiências nutricionais incluem:
- Crescimento inadequado: Crianças que estão abaixo do peso ou com crescimento lento podem apresentar falta de calorias, proteínas ou outros nutrientes importantes.
- Fadiga e fraqueza: Podem indicar deficiência de ferro, que leva à anemia, ou falta de vitaminas do complexo B.
- Dificuldades de concentração: Baixos níveis de zinco ou ferro podem afetar a capacidade de aprendizado e a concentração.
- Infecções frequentes: Uma dieta pobre em vitamina C ou zinco pode enfraquecer o sistema imunológico.
- Problemas na pele, unhas e cabelo: A deficiência de vitaminas A, D e E, bem como de ácidos graxos essenciais, pode causar pele seca, queda de cabelo e unhas quebradiças.
Alimentação Adequada para Prevenir Deficiência de Vitaminas
A melhor forma de prevenir deficiências nutricionais é garantir que a alimentação seja rica e variada, contendo todos os grupos alimentares. Aqui estão algumas dicas práticas de alimentação para garantir a ingestão adequada de vitaminas e micronutrientes:
- Incentivar o consumo de frutas e vegetais: Eles são ricos em vitaminas e minerais, como vitamina C, vitamina A e ácido fólico. Oferecer uma variedade de cores no prato é uma boa maneira de garantir que as crianças e adolescentes estejam consumindo uma ampla gama de nutrientes.
- Incluir fontes de proteína: Carnes, ovos, feijões e lentilhas são ricos em ferro, zinco e proteínas necessárias para o crescimento e desenvolvimento.
- Laticínios ou alternativas fortificadas: Para garantir a ingestão de cálcio, o consumo de leite, iogurte e queijo é recomendado. Para crianças que não consomem produtos lácteos, alimentos fortificados com cálcio, como bebidas vegetais, podem ser oferecidos.
- Evitar alimentos processados: Alimentos ricos em açúcar e gordura saturada devem ser evitados, pois podem substituir opções mais saudáveis e ricas em nutrientes.
Importância das Vitaminas e Micronutrientes
As vitaminas e os micronutrientes são essenciais para diversas funções do corpo, como fortalecer o sistema imunológico, ajudar no crescimento ósseo, manter a saúde da pele e apoiar o desenvolvimento cerebral. A maioria desses nutrientes é obtida através da alimentação, mas em alguns casos, a ingestão pode ser insuficiente, seja por restrições alimentares, hábitos alimentares inadequados ou necessidades aumentadas em determinadas fases da vida.
1. Vitamina D: Saúde dos Ossos e Imunidade
A vitamina D é um dos micronutrientes mais discutidos nos últimos anos, devido a sua importância na saúde óssea para a absorção de cálcio, na saúde muscular e para o sistema imunológico. A síntese cutânea de vitamina D através da exposição solar é a principal fonte, mas fatores como localização geográfica, uso de protetor solar e ambientes fechados limitam essa produção.
2.Ferro: Prevenção da Anemia
A deficiência de ferro é a carência nutricional mais comum no mundo, afetando principalmente mulheres em idade fértil, gestantes, crianças e adolescentes especialmente em meninas após a menstruação. A anemia ferropriva pode ter consequências graves, como atraso no desenvolvimento cognitivo (dificuldade de aprendizagem) e aumento da mortalidade materna e infantil.
O ferro é um mineral necessário para a produção de hemoglobina, a proteína que transporta oxigênio no sangue. A deficiência de ferro pode causar anemia, o que leva à fadiga, fraqueza, palidez e dificuldades de aprendizado em crianças e adolescentes.
3.Ácido Fólico: Crescimento e Desenvolvimento Celular
O ácido fólico é uma vitamina do complexo B que ajuda na formação de novas células, sendo fundamental para o crescimento, essencial para a síntese de DNA e prevenção de defeitos do tubo neural em fetos. A suplementação pré-concepcional ( iniciar 3 meses antes) e durante o primeiro trimestre de gestação é amplamente recomendada para todas as mulheres em idade fértil.
Em mulheres com histórico de defeitos do tubo neural ou em uso de medicamentos que interferem no metabolismo do folato, doses mais altas são indicadas.
Embora essa vitamina seja mais comumente associada à gravidez, ela é muito importante para crianças e adolescentes em crescimento.
4. Vitamina B12
A vitamina B12 é essencial para a saúde neurológica e hematológica. Crianças e adolescentes que consomem poucos alimentos de origem animal têm risco elevado para deficiência dessa vitamina. Pode levar a alterações neurológicas e à anemia.
5. Zinco: Sistema Imunológico e Crescimento
O zinco é necessário para o funcionamento de mais de 300 enzimas no corpo humano. O zinco é um mineral importante para o sistema imunológico e para o crescimento. Ele ajuda na cicatrização de feridas, combate infecções e apoia o crescimento celular. Deficiências podem ocorrer em crianças, idosos e indivíduos com dietas restritivas.
6.Vitamina A: Saúde dos Olhos e Pele
A vitamina A é essencial para a saúde dos olhos, ajudando na prevenção de problemas de visão, importante para o sistema imunológico e para a pele.
7.Cálcio: Desenvolvimento Ósseo
O cálcio é fundamental para o crescimento e fortalecimento dos ossos durante a infância, fase em que o corpo está em crescimento e especialmente durante a adolescência quando ocorre um rápido aumentado da massa óssea.
8. Iodo
O iodo é vital para a síntese de hormônios tireoidianos e o desenvolvimento cognitivo fetal. A deficiência de iodo continua sendo um problema de saúde pública em algumas regiões, mesmo com a iodação do sal.
Orientações para Prevenção de Deficiência de Vitaminas e Micronutrientes
A suplementação de micronutrientes deve ser indicada apenas em casos de deficiência comprovada ou em situações específicas. Em geral, uma alimentação balanceada pode suprir as necessidades diárias de vitaminas e minerais. Aqui estão algumas orientações alimentares para garantir a ingestão adequada desses nutrientes:
Vitamina D: Incentive as crianças a passarem tempo ao ar livre e consuma alimentos como peixes gordurosos, ovos e produtos lácteos fortificados com vitamina D. No entanto, muitas crianças e adolescentes têm níveis insuficientes de vitamina D, especialmente em regiões com pouca exposição solar ou no inverno.
Ferro: Alimentos ricos em ferro incluem carne vermelha, frango, peixe, feijão e vegetais de folhas escuras. O consumo de alimentos ricos em vitamina C, como frutas cítricas e tomate, ajudam a aumentar a absorção de ferro. Evitar a combinação com alimentos que inibem a sua absorção, como laticínios e café.
Ácido Fólico: Alimentos como folhas verdes, frutas cítricas, feijões e cereais fortificados são boas fontes de ácido fólico e devem ser incluídos na dieta das crianças e adolescentes.
Vitamina A: Ela é encontrada em alimentos como cenoura, batata-doce, espinafre, manga e mamão, alimentos ricos em betacaroteno.
Cálcio: Incentive o consumo de leite e seus derivados, como queijo e iogurte, vegetais de folhas verdes ou alimentos fortificados para garantir a ingestão adequada de cálcio.
Zinco: O zinco é encontrado em alimentos como carne vermelha, frango, nozes e leguminosas.
Como Abordar o Tratamento de Deficiência de vitaminas e de micronutrientes
A suplementação de vitaminas e minerais só deve ser feita quando há uma necessidade real, que pode ser por avaliação clínica e análise do histórico alimentar. O ideal é que crianças e adolescentes obtenham todos os nutrientes de que precisam por meio de uma alimentação balanceada.
Entretanto existem algumas recomendações para suplementação profilática (preventiva) para alguns micronutrientes, são eles: vitamina D, ferro e vitamina A
Quando uma deficiência é confirmada, o primeiro passo é ajustar a dieta para incluir alimentos ricos no nutriente faltante. Alimentação equilibrada é a base para suprir as necessidades de vitaminas e minerais.
No entanto, em situações específicas, seja por inadequação ou em casos mais graves de restrição alimentar, condições de saúde, necessidades aumentadas em determinadas fases da vida ou for identificada por meio de exames de sangue, a suplementação é necessária.
Deve ser feita sob orientação médica, que determinará a dose adequada com base na idade, no peso e na gravidade da deficiência. O acompanhamento é importante para garantir que o tratamento esteja funcionando e para evitar o excesso de nutrientes, que também pode ser prejudicial.
1.Vitamina D: Saúde dos Ossos e Imunidade
Recomendações atuais sugerem a suplementação profilática de vitamina D para populações de risco, incluindo crianças a partir de 7 dias de vida até 18 anos, com doses variadas conforme a idade.
As doses variam de acordo com a idade e se já existe deficiência desse nutriente, as doses são maiores.
2.Ferro: Prevenção da Anemia
O uso de ferro profilático, para a prevenção da anemia, está recomendado para as seguintes condições:
- todas as crianças com peso de nascimento menor que 2500 g a partir de 30 dias de vida.
- A partir do terceiro mês de vida para crianças que tiveram infecções graves após o nascimento, cujas mães tiveram anemia ou deficiência de ferro na gestação, perdas sanguíneas durante o parto.
- E para todas as crianças após o sexto mês de vida.
Essas suplementações são feitas até os 2 anos de idade.
Em casos de deficiência, devido à falta de ingesta desse nutriente ou em adolescentes com menstruações intensas, a suplementação de ferro pode ser realizada, sempre sob orientação médica. As doses são ajustadas de acordo com a gravidade da deficiência.
3.Ácido Fólico: Crescimento e Desenvolvimento Celular
A suplementação é indicada em casos de deficiência comprovada, o que pode ocorrer em crianças que consomem uma dieta pobre em vegetais ou em adolescentes que seguem dietas restritivas.
4. Vitamina B12
Grupos de risco para deficiência incluem vegetarianos estritos, idosos com gastrite atrófica e indivíduos com condições que afetam a absorção, como a doença celíaca.
5.Zinco: Sistema Imunológico e Crescimento
A suplementação é recomendada em casos de deficiência diagnosticada, em crianças com dietas restritivas e em crianças com diarreia persistente, a suplementação de zinco tem mostrado reduzir a duração e a gravidade do quadro.
6.Vitamina A: Saúde dos Olhos e Pele
A suplementação de vitamina A pode ser necessária em crianças com problemas de absorção intestinal ou uma dieta pobre em vegetais, especialmente em áreas onde a deficiência dessa vitamina é comum, como em algumas regiões de Minas Gerais.
O excesso de vitamina A também pode ser prejudicial, portanto, a suplementação deve ser feita com cautela e sob orientação médica.
7.Cálcio: Desenvolvimento Ósseo
A suplementação de cálcio pode ser indicada em crianças e adolescentes que não consomem quantidades adequadas de laticínios ou que possuem intolerância à lactose.
Conclusão
Garantir que crianças e adolescentes recebam as vitaminas e os micronutrientes necessários é essencial para seu crescimento e desenvolvimento saudáveis. A detecção precoce de deficiências nutricionais e a correção dessas deficiências por meio de alimentação variada e balanceada ou suplementação adequada são essenciais para garantir o crescimento e o desenvolvimento saudáveis. Quando a suplementação for necessária, deve ser personalizada, sempre feita sob a orientação de um profissional de saúde, para evitar excessos e garantir que as necessidades individuais sejam atendidas. A avaliação contínua e o monitoramento são fundamentais para garantir a eficácia e a segurança da suplementação.
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